Pam Orbacam



Pam Orbacam é o pseudônimo de Paula Miasato, que nasceu em Santo André, São Paulo, em 1970. Formada em Pedagogia, trabalha, atualmente, como assessora de coordenação e mediadora em oficinas culturais e artísticas de um projeto da Secretaria de Educação e Formação Profissional da Prefeitura de Santo André. É também escritora e artista plástica. Teve artigos publicados em sites literários e no site da Prefeitura de Santo André.
Leia mais aqui:
Blocos
Garganta da Serpente
Recanto das Letras
Usina das Palavras

Antídoto

Por onde anda a cor das rosas?
Em quais céus se perderam as borboletas?
Cegaram-se com o passar do tempo as estrelas?
E o louva deus? Em qual jardim ele adormece?
A resposta não se sabe...
Quem sabe seguiram viagem?
Ou cansaram do olhar alheio;
Ou terá sido eu
Que após provado o veneno
Matei a cor, o brilho e o cheiro?

Pam Orbacam

Perfume

Saudade do seu perfume: volátil.
Vontade do seu corpo: cálido.
Cobiça pelo afago: doce.
Onde está você?
Saudade e sede da tua boca: nascente.
Como se guarda um cheiro?
Como se guarda um sabor?
Como se guarda um calor?
Onde está você?

Pam Orbacam

O fio

Tudo o que calo ou falo
Constitui a significância de tudo o que vivo e pereço
É o que arde aos ouvidos quando calo
Que faz morada no meu peito enquanto morro
E é o que voa ao vento enquanto falo
Que se desfaz, dilui e evapora.
De que importa o som que ecoa sem resposta....
De que vale o silêncio, perante tamanha lacuna...
Vivo e morro no silêncio ardente do que calo
Enquanto mato e vivifico, proferindo a secura da boca.
Alienada no pensamento que cala
Enfastiada no movimento que fala
Nesse ouvido meu que ouve
Mil palavras, mil palavras...
É tudo que calo ou falo que me gela as mãos, o peito e a alma.

Pam Orbacam

Chuva

Chove.
Eu olho para o céu
Pescoço em seta
E não vejo de onde ela vem.
Brota no ar a chuva
Ou esconde sua nascente?
Molha ela meus olhos
Para que eu não a veja surgir?
Lacrimeja o céu em meus olhos
E me cega para sua raiz.

Pam Orbacam

Casulo

Viver em silêncio. Doce silêncio.
Ruído nenhum. Nem luz, nem sombra.
Só a brisa do tempo.
Olhos fechados, assim como o corpo.
Silêncio sem movimento.
Sem fome, sem sede. Sem ninguém que abale meu terno silêncio.
Doce silêncio, doce sono, só sonhos...
Sonhos de um sono só.
Sozinha em minha cama, eu: pós lagarta, pré borboleta.

Pam Orbacam

Luz

O cheiro e a umidade deixaram saudades.
O cheiro e a umidade agora se foram
E o rosa tão rosa das rosas agora é pálido
Como um anêmico crônico na ânsia por sangue fresco e quente,
Embora as borboletas nadem com sincronicidade no ar,
Embora as estrelas continuem a iluminar o céu,
Mesmo que mortas, mesmo que mortas.

Pam Orbacam